sábado, 24 de janeiro de 2015

É vítima da pureza, vítima do meu amor, vítima das almas!

Continuo a sentir duas coisas ao mesmo tempo: a perda de Jesus e a perda das almas. A perda de Jesus faz-me sentir tal horror e revolta que não se pode explicar. Quero amaldiçoar esta perda e amaldiçoar a terra. Parece que me atormentam todos os horrores do inferno. Sinto que era melhor perder tudo e tudo sofrer do que perder a Jesus. Só a Sua perda basta para ser o maior martírio do corpo e da alma.
- Meu Jesus, perder-Vos!...
E sobre esta grande dor cai o peso da Vossa justiça divina. Que tormento e dor sem igual!
E a perda das almas! Ai, quanto custa!
O meu coração corre atrás delas: que ternura e amor lhes dispensa!...
A alma com os seus olhares vê a sua fugida.
Que agonia! Não há amor que as prenda, não há palavras que as comovam, nem ouvidos que as escutem. Correm, correm para a perdição.
Oh, que dor a de Jesus! E que dor a minha, sentindo isto!...
Não posso consentir que as almas se percam.
Esta manhã, com a vinda de Jesus ao meu coração, levantaram-se em mim novas ânsias que deram princípio dum novo mundo dentro em meu coração.
É um edifício mundial a construir-se. As ânsias são de pureza e de amor; o edifício é levantado com isto. Que chamas ardentes, que fogo abrasador!
Esta pureza e este amor não são meus, não me pertencem, pertencem ao edifício, pertencem ao mundo.
Meu Deus, que ânsias consumidoras! Queria falar ao mundo inteiro, queria falar só em amor e pureza; só destas riquezas queria que ele vivesse.
Durante a tarde, senti-me no grande convívio, nuns grandes laços da mais estreita amizade.
De manhã, senti um novo mundo de amor.
Ao cair da tarde, a grande Ceia do Amor.
Amor, que grande ingratidão recebeu! Com esta ingratidão vi e senti a cruz atravessada em meu coração; era regada com o sangue que momento a momento jorrava dele, a cada respiração saía uma golfada de sangue.
Dolorosa quinta-feira, tão cheia de espinhos! A dor tirava-me a vida.
Já de noite, veio o demónio, maldoso como sempre. Figurou-se-me que, com os seus dentes, retalhava o meu corpo e punha em bocadinhos o terço e levava para longe a imagem da Mãezinha. Foram só as manhas dele: depois da luta, tudo tinha junto de mim. Que estrondo fazia o meu coração!
- Queres gozar? Oh, quanto vale o prazer!
Posso sossegar. Oh, como tu pecas!...
Quando ele bailava de satisfação, veio juntar-se ao gozo – que ele chama gozo – a dor a que só com um milagre de Jesus se pode resistir. Com muito custo chamei por Jesus, chamei muitas vezes a afirmar-Lhe sempre que não queria pecar. Os demónios com caras muito feias afirmavam o contrário. Veio Jesus e, à Sua voz divina, eles fugiram. Ele chamou:
- Anjo bendito, suaviza a dor da minha esposa, da minha vítima, da minha crucificada; leva-a ao seu lugar: é vítima da pureza, vítima do meu amor, vítima das almas!
Depressa tomei a minha posição, sem esforço, sem sentir dores.
Depressa vieram as nuvens negras, as dúvidas de ter ofendido gravemente a Jesus.
Sentimentos da Alma, 5 de Abril de 1945 – sexta-feira


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