domingo, 23 de novembro de 2014

Um colóquio da Alexandrina com Jesus e Nossa Senhora

30 DE MARÇO – SEXTA-FEIRA SANTA (dia do aniversário da Alexandrina)

Envolta na mesma nuvem que ontem sobre mim desceu, principiei o dia de hoje, dia que só era noite e vida que só era morte. Faltavam-me as saudades por não receber o meu Jesus. Sofri mais nos dias passados com a lembrança de hoje não O receber do que hoje por não comungar. Sofria por sentir pouca pena.
Indiferente a tudo, a minha alma sentiu, e o meu corpo também, que me levaram presa, e alguns por escárnio a ouvirem a opinião duma multidão de grande ralé e vil canalha que me condenavam à morte. Os meus ouvidos ouviam, a uma voz só, a palavra de “morra, condene-se”. Oh, que gritos os da multidão!
Tomei a cruz, caí repetidas vezes; ia a cada passo a expirar. Caía e sobre mim ficava a cruz.
Não por dó, mas por receio, queriam alguém que a levasse. Houve quem caminhasse com ela, não por amor, mas por ser mandado; mas mesmo assim quanto amor senti o meu coração dispensar-lhe! Que grande paga!
O meu corpo ia entregue aos malfeitores, o meu espírito ia só em Deus.
No calvário, o sangue corria por todas as feridas do meu corpo.
Que horas tão agonizantes!
Sentia na minha alma todos os suspiros que dava Jesus; todos os olhares que Ele levantava ao céu na minha alma foram gravados. 
Momentos antes de Jesus expirar, só de longe a longe dava um suspiro. E nesse intervalo de tempo estava como se não tivesse vida. E a minha alma a sentir tudo isto.
Oh, como era lindo! Que lições tão belas nos dá Jesus! Tão maltratado e tão cheio de ternura e amor!
Ainda o Seu santíssimo Corpo a sofrer na terra e a Sua Alma santíssima a voar ao Céu; voava e deixava cair para a terra bênçãos e chuvas de amor.
Veio o meu Jesus, fez-me por algum tempo esquecer a dor. Começou o meu coração a dilatar-se e a arder em chamas.
- Venho, minha filha, felicitar-te, saudar-te, louvar-te pelo teu aniversário, pela tua vida tão cheia de maravilhas, tão rica de virtudes, tão rica de amor! A tua vida é de rios de ouro e minas de pedras preciosas! Nunca o mundo viu nem voltará a ver; és a vida das almas! É com esta riqueza que elas são resgatadas, que elas são salvas.
- Falai, falai, meu Jesus, são para Vós as felicitações, as saudações e os louvores.
O que faço eu sem Vós, meu Jesus? O que sou eu sem Vós? Podeis dizer, podeis falar, a grandeza é Vossa, a miséria é minha.
- Louvo-te pela tua fidelidade e correspondência às minhas graças divinas! Louvo-te pela tua reparação!
Quantas vítimas escolhi e recebi uma recusa; quantas chamei e não me escutaram! A quantas convidei a uma alta elevação para Mim e nada consegui…
Em ti consolei-Me, de ti tudo recebi. Tu és o instrumento das almas, és a conquistadora de Cristo! Toda a tua vida é uma vida de maravilhas!
Se pudesses ver as almas que por ti foram salvas! E ultimamente, nestes três anos do teu jejum!...
Que grande meio para acudir aos pecadores!... Mostro aqui o Meu poder, as Minhas ânsias e o Meu amor para com eles.
Nada te disse no aniversário do teu jejum, para tirar da tua amargura toda a doçura para Mim e todo o proveito para as almas. E vou já assim preparando-te para tua última fase.
Martírio acompanhado com o jejum será o maior meio, o último meio de salvação! Não será só riqueza de rios de ouro e minas preciosas, mas será um mundo de ouro, um mundo das mesmas pedras!
O martírio subirá ao auge e o amor atingirá toda a altura!
O amor a Jesus, a dor pelas almas, reparação sem igual!...
Recebe agora, minha filha, o Sangue do Meu Divino Coração: é a vida que necessitas, é a vida que dás às almas!
Vi o Coração Divino de Jesus a arder em chamas, a transbordar de amor. Unido aos meus lábios, sentia o Sangue correr e o meu coração por muito tempo a dilatar-se.
- Minha filha, o Céu louva-Me por te ter criado, louva-Me pela honra que Me dás e louvor que já da terra recebo.
O Céu louva-Me e sempre Me louvará! Da terra já recebo louvores e dentro em breve todo o mundo Me dará louvor pela minha vítima, pela nova redentora.
Prepara-te, filhinha, vou-Me dar a ti. É um sinal que, mesmo escondido, sempre em ti habito. Repara, desce o Céu sobre ti. Dou-Me a ti numa comunhão real, numa comunhão eucarística.
Desceu sobre mim a abóbada do céu.
- Que lindo, que lindo! – exclamei eu. Vale a pena, meu Jesus, sofrer e sofrer tudo para possuir o céu!
Eram tantos, tantos os anjos que batiam as asas e prestavam homenagens a Jesus!
Desta vez não cantavam. Adoravam e inclinavam-se em sinal de reverência na presença de Jesus. Ele disse as palavras Ecce Agnus Dei e depois as de Corpus Domini Jesu Christi (1).
Parece-me bem que estendi a língua para receber Jesus. Ficamos por uns momentos num silêncio profundo, numa união tão grande! Depois Jesus chamou pela Mãezinha.
- Mãe Bendita, vem saudar e acariciar a nossa filhinha, a nossa vítima!
Ela veio, tomou-me para o Seu regaço, cobriu-me de mimos e entrelaçou os seus santíssimos braços nos de Jesus, e estreitavam-me os dois ao mesmo tempo.
- Minha filha, flor mimosa do meu Jesus, amo-te, amo-te com Ele. Recebe todo o nosso amor.
Saúdo-te pelo louvor, honra e almas que Nos dás. Sofre, sofre contente! É a Mãe que pede para os Seus filhos, é a Mãe que pede para os irmãos teus.
Beijava-me dum lado Jesus e do outro a Mãezinha. Jesus acrescentou:
- Vai, filhinha, vai escrever tudo! Para tudo o que disseres, tudo o que fizeres, terás sempre a luz do Divino Espírito Santo; é Ele que fala em ti.
- Obrigada, Jesus, obrigada, Mãezinha!
Fiquei logo duvidosa de tudo e mergulhada em tanta dor: de nada me valiam as pessoas queridas que me rodeavam. Vieram ainda espinhos tão agudos a ferirem-me. Por tudo bendisse ao Senhor e, como remate, rezei o Magnificat. 
  

(1) No dia 11 de Abril, pergunta-me: “O que querem dizer estas palavras? E as outras, Corpus Domini Jesu Christi?” Notei também que normalmente ela não sabe estas frases e, referindo-se a elas, diz: “aquelas palavras que Jesus disse na comunhão” (Pe. Humberto?)

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