quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Para a história da Santa Cruz

Este documento data de 1823, nove anos antes da aparição da Santa Cruz no Calvário, e dá conta do temor que se apossou dos liberais quando houve o primeiro levantamento militar contra eles. Foi registado nos livros paroquiais das visitas e mais tarde veio ordem para o tornar ilegível. Houve párocos que acataram a ordem, outros nem tanto, como foi o que riscou a cópia que se coloca ao fundo.
Na verdade, o documento é precedido por parte duma exortação das autoridades eclesiásticas bracarenses adversa ao teor do documento liberal.
Viveram-se então décadas terríveis.

O Doutor Manuel José Leite Pereira, Abade de S. Pedro de Maximinos, Desembargador, Provisor e Vigário Geral nesta Corte e Arcebispado pelo Ex.mo e Rev.mo Senhor D. Fr. Miguel da Madre de Deus, Arcebispo e Senhor de Braga, Primaz das Espanhas, etc., faço saber aos Rev.dos Párocos que, da parte dos Senhores Governadores do Arcebispado, me foi dirigida a Exortação seguinte:

Os Governadores do Arcebispado Primaz aos Rev.dos Párocos, ao Venerável Clero Secular e Regular e aos mais súbditos desta Santa Igreja.
Aparecendo a luz, dissipam-se as trevas e, aparecendo a verdade, dissipam-se os erros, os enganos, tais foram aqueles que motivaram a nossa exortação datada no dia 15 de Março de 1823, expedida por força da Régia Portaria do teor seguinte:

Manda El-Rei pela Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça:
Atendendo a que o terrível exemplo de perjuro dado pelo Conde de Amarante pode alucinar alguns incautos desconhecedores de seus verdadeiros interesses e consequentemente deixarem-se arrastar por mal-intencionados que só desejam ver derramado o sangue dos irmãos, parentes e amigos para, no meio da desordem, da confusão e da carnagem, darem cruento pasto a inveterados ódios e antigas rixas, sem lhes importar transpor todas as barreiras da humanidade, da honra e da probidade, virtudes inatas em verdadeiros Portugueses, contanto porém que imaginam conseguir assim os seus perversos e danados intentos, que o Reverendo Arcebispo Primaz ou quem suas vezes fizer ordene a todos os Párocos da sua Diocese instruam os seus fregueses no horror em que devem ter os que, violando um tão sagrado juramento como o que há pouco prestaram à Constituição da Monarquia, única forma de governo que pode fazer a felicidade dos Portugueses, se hão deixado, desapercebidos, fascinar por aquele rebelde, que verdadeiramente lhes façam sentir os iminentes males que lhes caberiam em partilha se deixassem contaminar-se com um tão execrando modelo, cumprindo ao mesmo tempo fazer-lhes conhecer quanta obediência devemos prestar à Constituição e leis regentes (vigentes?), o respeito devido às autoridades constituídas e quanto enfim seria terrível a Sua Majestade que mais sectário encontrasse o detestável exemplo de Vila Real, cujo estranho procedimento entre Portugueses tem profundamente magoado seu coração paternal.
Palácio da Bemposta, em 5 de Março de 1823.
José da Silva Carvalho

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