segunda-feira, 19 de maio de 2014

Faleceu D. Eurico Dias Nogueira

D. Eurico Dias Nogueira, o arcebispo do tempo em que a actual Beata Alexandrina foi proclamada venerável, faleceu hoje. Veja também aqui.
Colocamos a seguir o Decreto das Virtudes Heróicas que permitiu a elevação da "Serva de Deus" Alexandrina a "Venerável": 

CONGREGAÇÃO PARA AS CAUSAS DOS SANTOS
Bracarense

Processo de Beatificação e Canonização
da Serva de Deus

ALEXANDRINA MARIA DA COSTA

Virgem secular
Membro da Associação dos Cooperadores de S. João Bosco

(1904-1955)
  

DECRETO SOBRE AS VIRTUDES

 Mas vós sois corpo de Cristo e seus membros” (1 Cor 12, 27).
Membro vivo de Cristo foi a Alexandrina Maria da Costa, que rece­beu do Senhor a vocação de participar nos sofrimentos da paixão do Senhor Jesus, que se “humilhou a si próprio, feito obediente até à morte e morte de cruz” (Fil 2, 8). Unida ao Divino Esposo, seguiu-o com amor e por amor se devotou no caminho do calvário pela conversão dos pecadores e pela conversão das almas, desempenhando a sua missão, que lhe fora confiada pelo Céu, de “amar, padecer e expiar”.

A Serva de Deus, segunda filha natural de Ana Maria da Costa, nas­ceu no dia 30 de Março de 1904, no lugar de Gresufes, na aldeia de Balasar, no território da Arquidiocese de Braga, Portugal, e recebeu o Baptismo no dia 2 de Abril seguinte. A mãe dela, abandonada pelo esposo pouco antes do casamento, suportou com dignidade o peso da família e educou as filhas com fortaleza e diligência segundo as leis de Deus e da Igreja, dando-lhes admiráveis exemplos de oração e de prática de caridade, sobretudo para com os doentes.
Desde a meninice, a Alexandrina sofreu os efeitos de dura pobreza quando a família, perdidos todos os bens, contraíra um grande emprés­timo para ajudar um parente necessitado. Frequentou a escola primária durante pouco tempo na cidade da Póvoa de Varzim, onde, com grande alegria, fez a Primeira Comunhão. Depois do regresso à sua aldeia natal, trabalhou nos campos e aprendeu costura. Gozava de óptima saúde, era de espírito alegre, folgazão, afável e vivaz. Dedicava-se à oração com assiduidade, estudava o catecismo, participava nas actividades paro­quiais e empenhava-se na correcção dos seus defeitos. Assistia de boa­mente doentes e moribundos.
 No Sábado Santo do ano de 1918, para defender a virgindade de alguns homens que se tinham infiltrado em sua casa, atirou-se de uma janela abaixo e a partir daí caminhou com dificuldade e com sofrimento. De início, os médicos não conseguiram fazer um diagnóstico acertado, mas mais tarde chegaram à conclusão de que ela sofria de mielite com­primida da medula. Todo o tratamento resultou ineficaz e os sofrimen­tos foram aumentando de dia para dia, até que no ano de 1925 viu-se obrigada a acamar definitivamente. A paralisia dos membros foi aumen­tando cada vez mais e por fim a atrofia dos músculos foi tal que a impe­diram de qualquer movimento.
Nos primeiros anos da doença, como é natural, pediu instantemente a cura, mas foi-lhe concedida a graça de aceitar a vontade de Deus e também desejar sofrer ainda mais. Deste modo o seu leito tornou-se um altar do sacrifício, o seu corpo um templo no qual Deus realizou mara­vilhas e a alma transformada numa chama ardente de caridade. Começou por sentir uma grande pena de “Jesus prisioneiro dos Sacrários”, ao mesmo tempo que tomava consciência mais clara­mente da sua vocação de vítima. Instruída pelo próprio Cristo e por Ele guiada na sabedoria da Cruz, ofereceu-se como vítima de expiação, acei­tou ser crucificada e tornar-se participante da Redenção através dos seus sofrimentos, que foram muitos, atrozes e contínuos. Experimentou na sua carne e no seu espírito os sofrimentos da paixão de Jesus, moléstias diabólicas, a que se juntaram tentações, períodos de aridez e de trevas interiores, dúvidas contra a fé e morte mística. Tinha desgosto de não poder ir à igreja e de não ter possibilidade de comungar frequente­mente, bem como de que fossem demasiado divulgadas as suas admirá­veis experiências. Sofreu igualmente devido aos transtornos causados pelas visitas de muitas pessoas, devido ao afastamento do seu primeiro director espiritual, aos inquéritos eclesiásticos e dos médicos, devido às repreensões deles, por não acreditarem na sua sinceridade e honesti­dade. Deus favoreceu-a com êxtases, visões, conhecimento de factos futuros, perscrutação dos corações. Nos últimos treze anos de vida não tomou qualquer alimento a não ser o Pão eucarístico.
Apesar de doente, exerceu um grande e frutuoso apostolado: rece­bia com amabilidade as muitas visitas às quais dirigia palavras de fé e de consolação exortando-as a receberem os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, a rezarem o terço e não raramente obteve a conversão dos pecadores. Ensinou durante muito tempo o catecismo às crianças; foi zeladora da Pia União do Apostolado da Oração, promoveu a edição de livros católicos e das missões; fomentou as vocações sacer­dotais e religiosas; aderiu às Filhas de Maria e à Associação dos Cooperadores Salesianos. Com as ofertas recebidas de benfeitores favo­receu o culto divino, a pregação da Palavra de Deus, ajudou a sua paró­quia, as missões, os alunos dos seminários e jovens necessitados, pobres e desempregados. Interessou-se pela celebração das festas religiosas e da Santas Missas; contribuiu para a construção de casas para os que delas careciam. No ano de 1936 pediu ao Sumo Pontífice a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, o que fez Pio XII no dia 31 de Outubro de 1942.

Esquecida de si mesma, viveu só para Deus e para o próximo e, entre os espinhos do sofrimento, cultivou muito belas e perfumadas virtudes cristãs. A fé foi a luz dos seus pensamentos, dos seus afectos, das suas palavras e acções. Acreditou firmemente em Jesus Cristo, no Evangelho, nas verdades reveladas e no magistério da Igreja. Cumpriu perfeita­mente os mandamentos de Deus, obedeceu prontamente à vontade de Deus e foi instrumento dócil nas suas mãos para o desempenho da mis­são que lhe foi confiada para bem da humanidade. Elevada à contem­plação dos grandes mistérios da fé e da oração, nutriu uma particular devoção à Santíssima Trindade, à Eucaristia e à Virgem Maria. Identificada com Cristo pregado na cruz até ao ponto de afirmar: “Não sou eu que sofro: é Jesus que sofre em mim”; e de poder repetir de si com S. Paulo: “Estou crucificada com Cristo; já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gál 2,20), e acrescentar: “Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo Seu Corpo, que é a Igreja” (Col 1,24).
O seu coração ardia de amor para com Deus, a Igreja e as almas. Escreveu:
Amarei a Jesus nas trevas, amá-Lo-ei nas humilhações, nos sofrimentos e nas angústias da alma; amá-Lo-ei com transportes de ale­gria, esforçando-me por cumprir em tudo a sua vontade.
 Afirmava ao mesmo tempo que estava disposta a sofrer até ao fim do mundo pela salvação dos pecadores.
Na lápide do seu sepulcro quis que fossem gravadas estas palavras, compêndio do seu apostolado:
Pecadores, se as cinzas do meu corpo vos podem servir para a vossa salvação, vinde, calcai-as aos pés até elas desa­parecerem, mas não continueis a pecar, nem ofendais mais o nosso Jesus!
Pecadores, quereria dizer-vos muita coisa! Este cemitério não chegaria para as conter!
Convertei-vos!
Não ofendais a Jesus, não queirais perdê-lo eternamente!
Ele é tão bom!
Basta de pecados!
Amai-O! Amai-O!
Não foi menor a sua caridade para com a mãe e a irmã Deolinda que a assistiram carinhosamente, para com os pobres, os doentes, as almas do Purgatório; e aqueles que lhe causaram qualquer desgosto, recebe­ram imediatamente o seu perdão e a sua benevolência. Sinceramente humilde, tinha-se em conta de nada diante de Deus e indigna de qual­quer reputação diante dos homens; evitava louvores e regozijava-se quando era desprezada. Alheia às coisas do mundo, abraçou com alegria a temperança e a pobreza, colocando a sua esperança em Deus e na Providência; tendia continuamente ao prémio eterno, que esperava alcançar não pelos seus méritos, mas pelos de Cristo. Conservou-se livre e pura de qualquer afecto desordenado e observou perfeitamente a cas­tidade, superando não leves tentações. Em todas as circunstâncias falou e agiu com prudência sobrenatural. Foi justa para com Deus e o pró­ximo: foi forte na obediência aos superiores eclesiásticos, nos sofrimen­tos do corpo e do espírito, na fidelidade ao dever e no cumprimento quotidiano da vontade divina. Também na proximidade da morte, quando os sofrimentos atingiram o máximo, perseverou com fortaleza e generosidade na entrega de si mesma e da sua vida. Com ânimo sereno foi ao encontro da eternidade murmurando:
Sou feliz, porque vou para o Céu.
Confortada com os sacramentos, concluiu o seu caminho doloroso e com a lâmpada acesa entrou na morada de Deus no dia 13 de Outubro de 1955.
O povo, que a tinha em conceito de santa, afirmou:
“ Morreu a mãe dos pobres, o auxílio dos necessitados; foi-se a consoladora dos aflitos”.
Uma multidão imensa visitou o seu corpo e esteve presente nas suas exé­quias. No ano de 1977, o seu corpo foi trasladado para a igreja paroquial de Balasar, onde presentemente se encontra, venerado pelos fiéis, que numerosos acorrem e se encomendam à sua intercessão.
Conhecida a grandeza e a consistência da fama de santidade, de que a Serva de Deus deu mostras em vida, na morte e depois da morte, o Arcebispo de Braga deu início à Causa de beatificação e canonização, celebrando o processo informativo ordinário (1967-1973), cuja autori­dade e valor foram reconhecidos pela Congregação para as Causas dos Santos com decreto promulgado no dia 16 de Novembro de 1990. Completada a preparação da Posição, discutiu-se se a Alexandrina teria exercido as virtudes como os heróis. No dia 13 de Maio de 1995, reali­zou-se, com êxito feliz, o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos. Depois, os Cardeais e Bispos, na Sessão Ordinária do dia 7 de Novembro do mesmo ano, sendo Ponente da Causa o Ex.mo Senhor D. Ottorino Pedro Alberti, Arcebispo de Cagliari, reconheceram que a Serva de Deus Alexandrina Maria da Costa tinha observado de maneira heróica as vir­tudes teologais, cardeais e suas anexas.

Feita, finalmente, por parte do abaixo assinado Pró-Prefeito, uma cuidada relação de tudo isto ao Sumo Pontífice João Paulo II, Sua Santidade acolheu e ratificou os votos da Congregação para as Causas dos Santos, e mandou que fosse publicado o Decreto sobre as Virtudes heróicas da Serva de Deus.
Cumprido fielmente o estabelecido, chamados hoje à sua presença o abaixo assinado Pró-Perfeito, o Ponente da Causa e eu, Bispo Secretário da Congregação, bem como os demais como é hábito convocar, a todos eles o Santíssimo Padre solenemente declarou:
Consta que a Serva de Deus Alexandrina Maria da Costa, Virgem Secular, Membro da Associação dos Cooperadores de S. João Bosco, no caso e para os efeitos que lhe estão ligados, praticou as virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade para com Deus e para com o próximo, bem como as Virtudes cardeais da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza, e suas anexas, em grau heróico.
E deu ordem para que este decreto fosse tornado público e referen­ciado nas actas da Congregação para as Causas dos Santos.

Roma, 12 de Janeiro de 1996.

                          †       Alberto Bovone
                         Arcebispo titular de Cesareia na Numídia
                         Pro-Prefeito

                          †       Eduardo Nowak
                         Arcebispo titular de Luna

                          Secretário

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