sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Por Maria a Jesus

Pelo P.e Mariano Pinho

Por Maria a Jesus! É o programa de todos os Con­gregados; é o lema de todos os cristãos, o roteiro seguro de todos os predestinados para a eterni­dade! Atraídos por Maria, deram com Jesus; iluminados por Maria, viram-se iluminados por Jesus; alentados por Maria à contrição, à confiança, encontraram-se no oceano das Misericórdias infinitas de Jesus.
É esta a economia divina de Maria: quer-nos muito, mas para Jesus; busca-nos, se andamos fugidos, mas para nos levar a Jesus; deseja e pede-nos o nosso cora­ção, o nosso amor, mas para que mais amemos a Jesus.
É este também o resultado da nossa devoção a Ma­ria Santíssima, se é sincera, se é ardente, se é ilustrada, se é enfim, devoção verdadeira: per Mariam ad Jesum.
Então há de ser este também o resultado principal de todas as nossas práticas marianas durante o mês de Maio, se forem práticas de verdadeira e sólida devoção a Maria.
Todo este mês deve ser um ir crescendo sempre em luz e calor: luz que nos mostre cada vez mais nítida aos olhos da nossa alma, a imagem infinitamente deslum­brante e dulcíssima de Jesus; calor que nos inflame e transforme em serafins de caridade para com o Amor que não é amado, para com o seu Coração Amantíssimo.
Assim será, se o nosso mês de Maio não se limitar só ao afã de andarmos colhendo pelos prados e cantei­ros as melhores rosas e lírios e açucenas para com elas adornarmos o altar da Virgem Pura: faz bem à alma des­cansar a vista sobre um altar de Maria, aformoseado com gosto, com sobriedade, com mimo, pelas florinhas com que Deus Nosso Senhor dá afinal também mimo e en­canto aos nossos prados: — as florinhas, as estrelas e os olhos dos inocentes, diz um autor, são as únicas lembran­ças que na natureza nos ficaram do Paraíso terreal. — Mas flores só — não são devoção a Maria.
Faz bem ao espírito escutar durante o mês de Maio os cânticos escolhidos e religiosos e dignamente executados em louvor da Mãe da Deus: porém música, tão somente, ainda não é devoção a Maria e o mês de Maio que se limitasse apenas a cantos e flores, não nos levaria a Je­sus por Maria.
O mês de Maio, para dar resultado tem que ser um mês de estudo e de oração. 
Mês de estudo. Estudo em que o Mestre é o Divino Espírito Santo e a potência que mais se aplica é a inteligência informada pela fé; estudo, que melhor lhe chamaremos meditação, desta Obra-prima do Criador, a Virgem Imaculada. Ah! e não bastará um mês, porque também não há de bastar uma eternidade, se queremos penetrar, nas grandezas, nos privilégios, no poder e nas misericórdias de Maria!
Mas por pouco que se medite, se é com reverência e humildade e desejo ardente de conhecer tão boa Mãe, logo a nossa inteligência se arrebatará, ao ver que «nada há mais esplêndido do que Aquela a quem o mesmo Di­vino Esplendor escolheu: quid splendidius ea quam Splendor elegit?» como diz Santo Ambrósio. Logo o nosso coração se sentirá prendado e preso da Sua amabilidade de Mãe do Amor Formoso, de Mãe dos pequeninos, de Mãe de Misericórdia. Em Maria condensou Deus tudo o que fora de Si há de amável, de belo e de bom.
Logo finalmente nos veremos impelidos a trabalhar por nos parecermos com tão acabado modelo: quem ao meditá-la tão bela e perfeita e ao lembrar-se que é sua Mãe, não sentirá desejos de se parecer com ela?
Mas quem não adverte que estudar e chegar pela meditação ao conhecimento de Maria é estudar e conhe­cer a Jesus? Quem não vê que imitá-la a Ela é imitar a Jesus? Maria foi quem melhor se pareceu na terra e quem melhor no céu se parece com Jesus; aproximar-se por isso das perfeições de Nossa Senhora, é caminhar para as perfeições de Jesus: per Mariam ad Jesum.
Depois, o mês de Maio há de ser mês de oração. Já o meditar nas grandezas de Maria é orar: a verda­deira meditação ascética é oração. Mas havemos de orar, louvando-a e por Ela ao Criador, vendo «quão grandes coisas operou em Maria o Todo-poderoso; a nossa alma engrandece ao Senhor, e o nosso espírito exulta em Deus nosso Salvador, ao ver a Bondade com que olhou para a humildade da sua servazinha: magnificat anima mea Do­minum et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo: quia respexit humilitatem ancillae suae. E à porfia com todas as gerações a proclamamos Bem-aventurada, bendita entre todas as mulheres, toda bela e Imaculada, glória do nosso povo, alegria dos céus e da terra e advogada dos pecadores.
Orar louvando e orar dando graças a Deus por nos ter outorgado tão boa Mãe e dando graças a Maria por tão plenamente se desempenhar dessa sua missão de Mãe.
Orar ainda pedindo: ele há tanto que pedir! A ora­ção é a maior necessidade do género humano, e é tam­bém a nossa omnipotência: «tudo o que pedirdes em meu nome vos será dado» — dizia Jesus, «pedi e recebe­reis». Ele há tanto que pedir! Então peçamos e rece­beremos: só pedindo e pedindo muito, é que o mês de Maria será para nós o mês de graças e de bênçãos.
Então peçamos e receberemos; peçamos para nós e peçamos para os outros. Peçamos pela Igreja e pelo Papa; pelos Bispos e pelo Clero e pelos Religiosos e Religiosas, peçamos pela pátria, pela sociedade e pela família; peçamos pelos adultos e pela juventude de um e outro sexo; peçamos pela infância: ele há tanto que pe­dir! Mas peçamos e receberemos; vamos com confiança ao trono da graça. Vamos a Jesus por Maria, peçamos a Jesus por Maria. Peçamos a Maria que nos mostre a Jesus, agora, pelo conhecimento cada vez mais claro e o amor mais abrasado e depois deste exílio, face a face, para o gozarmos eternamente no Céu: et Jesum benedictum fructum ventris tui nobis post hoc exilium ostende.
Se assim se passar o nosso mês de Maio, dará o resultado de toda a verdadeira e sólida devoção, especial­mente quando essa devoção é devoção a Maria Santís­sima, que é: aproximar-nos, levar-nos a Jesus: per Ma­riam ad Jesum.
M. Pinho (Maio de 1932)

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