sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A SANTA CRUZ DE BALASAR E O CONTEXTO RELIGIOSO E POLÍTICO AO TEMPO DA SUA APARIÇÃO - 2

Documentos da autoridade bracarense legítima

Circular de apoio a D. Miguel

D. Miguel assumira poucos meses antes plenamente o governo do país.
O Vigário Capitular apela vigorosamente a que o Clero da diocese seja generoso no auxílio monetário ao Rei, de quem faz um elogio exagerado. Associa as intenções dos liberais aos ataques à Igreja no tempo da Revolução Francesa.


Manuel Ramos de Sá, Chantre da Sé Primaz, Vigário Capitular nesta Corte e Arcebispado de Braga pelo Ilustríssimo e Reverendíssimo Cabido dela, sede vacante

Sendo bem patente a todos os Rev. Párocos e mais Eclesiásticos deste Arcebispado Primaz o actual empenho da Monarquia prodigiosamente levantada do último abatimento a que a tinham levado as violências e ataques dos mais pérfidos inimigos que no seio da pátria e no tenebroso antro das cavernas preparavam a total dissolução do vínculo sociável (sic) e da ordem pública estabelecida pelo primeiro monarca português com alta sabedoria, ligando-se com o soberano interesse da augusta Religião de Jesus Cristo e com a propriedade externa da sua Igreja; sendo a todos bem notórias as inevitáveis e importantíssimas despesas que tem feito a Real Fazenda para o salvamento da Religião e do Trono, que felizmente se acha a salvo da rigorosa tribulação e do naufrágio pelas sublimes virtudes, superior constância, alta sabedora e ânimo verdadeiramente real de um Rei em tudo o primeiro, é de rigorosa justiça que todos os bons portugueses e particularmente o corpo eclesiástico se una aos pés do Trono e coadjuve o excelso monarca não só com as lições e exemplo de lealdade, mas igualmente contribuindo para as importantíssimas despesas que se têm feito e continuam a fazer, com os generosos donativos que couberem nos limites da sua possibilidade imitando a bondade e generosidade dos seus maiores noutras épocas da monarquia que porventura não foram tão perigosas.
O Clero da Corte e de outros bispados já segue os seus passos e o Rev. Cabido desta Santa Sé Primaz, não menos zeloso e igualmente interessado, abriu exemplo no corpo eclesiástico deste Arcebispado oferecendo a quantia que o estado das suas rendas permitia.
Confio portanto das virtudes religiosas, morais e públicas de todos os Rev. Párocos e mais Clero deste Arcebispado Primaz que pronta e generosamente se prestarão a concorrer para um donativo que o interesse comum exige e a utilidade particular imperiosamente pede não só porque o corpo eclesiástico deve abrir exemplo no rebanho que lhe está confiado e interessar-se decididamente na conservação da antiga ordem pública, mas porque, se a detestável facção conseguisse levar a cabo seu plano destruidor, nem a fazenda nem a liberdade nem mesmo a vida lhe pouparia.
D. Miguel
A prova está na triste experiência dos últimos acontecimentos revolucionários; e se algum miserável eclesiástico teve a desgraça de se deixar iludir pela enganadora esperança de ocupar os benefícios mais pingues, já tenha sobejas provas para se convencer de que a facção destruidora intentava abolir e acabar com tudo aquilo que tivesse ligação com a fé e moral de Jesus Cristo e leis da sua Igreja, copiando fielmente os passos da revolução da França e porventura adiantando mais alguma coisa.
Os erros alheios servem para melhorar a nossa conduta. Se todo o Clero da França se unisse ao Trono e sacrificasse por algum tempo o seu particular interesse, talvez não perderia em pouco tempo todos os seus bens e a sua consideração até finalmente ser exterminado e barbaramente assassinado.
Por tão ponderosos motivos e outros que a todos são óbvios, espero que os Rev. Párocos e mais Eclesiásticos que ainda não tiverem contribuído para o donativo o farão segundo as suas posses por respectivos distritos, desejando muito ver escritos seus nomes nas listas que se forem publicando na gazeta ministerial.
O Rev. Desembargador Vigário Geral desta Corte, servindo de Provisor, mandará passar as ordens necessárias para que esta circular chegue à notícia de todos.
Braga, 11 de Setembro de 1828.

Manuel Ramos de Sá, Chantre e Vigário Capitular

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