sexta-feira, 5 de julho de 2013

Poesia do reitor que baptizou os pais da Beata Alexandrina (4)

O P.e António Martins de Faria “foi insigne jornalista, mimoso poeta, orador apostólico e pároco exemplar.
Como jornalista, bem cedo, ainda no verdor dos seus anos, entrou na arena da imprensa, pugnando como atleta vigoroso sempre em prol da boa causa, terçando às vezes armas com adversários, enérgica e alevantadamente, mas sempre com fina educação. Na vila de Barcelos, com seus queridos condiscípulos Rev.dos António Fernandes Pais de Villas-Boas e João Evangelista de Lima, ambos já falecidos, fundou um jornal que dirigiu com superior critério, ao qual se deveu a ruidosa decisão duma vitória eleitoral, e onde se admirava a par dum estilo sublime e brilhante a energia de combatentes denodados e a firmeza duma argumentação cerrada.
Como poeta, tão alto falam as variadas composições suas, desferidas em alaúde duma ternura incomparável e de um ritmo cadencioso, que comovia, enlevava e prendia, que existem dispersas em várias revistas e jornais e algumas coligidas nas suas “Vozes de Alma” e “Últimas Vozes”. Este jornal por muitas vezes se honrou com as inspiradas poesias, arrancadas da sua lira de poeta de raça.
Como orador, limando admiravelmente os seus sermões, de um português castigado, e ornando-os de ideias sublimes, que não só de palavras vazias de sentido, nunca se esquecia que era dever seu pregar a palavra de Deus e espargir a jorros os ensinamentos e as doutrinações da Igreja.
Como pároco, também alto apregoam as suas virtudes e a sua bondade as lágrimas que os povos da freguesia de Mariz, do concelho de Barcellos, e de Balasar, deste concelho, as primeiras que pastoreou, verteram à sua despedida, e as lágrimas que o honrado povo de Beiriz deixou cair sobre a sua urna funerária, testemunho altíloquo do amor que consagrava àqueles que, sempre com zelo, tomou a peito (n)o cumprimento íntegro do seu espinhoso múnus.
De trato lhano e familiar, ele era o protótipo da caridade, que é filha excelsa do Céu”. Estrela Povoense, 19/10/1913

Mais poesia cristológica:

Noite de Natal

Debaixo dum céu de estrelas
Erga embora uma canção
O poeta às noites belas,
Às lindas noites de verão.
Erga embora, mas na lira
Um canto também desfira,
Doce, terno, festival –
Um canto que diga bem
Toda a magia que tem
Esta noite de Natal.

Se nessas noites serenas,
À meiga luz do luar,
Dançam brancas e morenas,
À compita, com seu par,
Dando voltas graciosas,
Como dão as mariposas
Que procuram com ardor,
Com frenesi, com delírio
Imprimir no branco lírio
Um doce beijo de amor,

Também junto da lareira,
Nesta noite de alegria,
À luz branda da fogueira,
Acesa inda com dia,
Beija o velho de contente
A netazinha inocente
Que, não tendo mais que dar,
Em paga de tais carinhos,
Abre a sorrir os bracinhos
Para o poder abraçar.

Se não faltam namoradas
Na noite de S. João,
Tão loucas, tão desvairadas
Pelo fumo da paixão
Que deitam, que riram sortes,
Que chegam mesmo aos transportes
De querer adivinhar
Pelo luzir das estrelas
Se todas, se alguma delas
Hão-de solteiras ficar,

Nas aldeias e cidades,
Nesta noite de Natal,
Não faltam também beldades
De pureza angelical
Que, lidas nas profecias
De Jacob e de Isaías
Acerca do Redentor,
Em honra do Deus-Menino,
Alegres cantam um hino,
Um hino todo de amor.

Um hino que diz – Bendito
Seja Deus que hoje nos deu,
Conforme fora predito,
Por irmão o Filho seu –
Um hino que diz – Louvado
Por todos e bem amado
Seja seu Filho também –
Seu Filho com forma humana,
Nascido numa cabana
Dos subúrbios de Belém.

Um hino que mil louvores
Diz também, como cumpria,
Sejam dados aos primores
De José e de Maria –
Um hino que, depois disto,
Depois de Deus e de Cristo,
Maria e José louvar,
Saúda, por derradeiro,
A noite que o cativeiro
Da culpa viu acabar.

E quem pode neste mundo,
Tendo fé e coração,
Deixar, sem sinal profundo
Da mais feia ingratidão,
De saudar a noite bela
Que, ao cabo de atra procela,
Nos trouxe bonança e luz?
Que depois do culto velho
Nos trouxe o novo Evangelho
Na pessoa de Jesus?

Erga pois embora um canto
Às lindas noites de verão
Quem puder chegar a tanto
Pela sua inspiração –
Erga embora, mas na lira
Um canto também desfira,
Doce, terno, festival –
Um canto que diga bem
Toda a magia que tem
Esta noite de Natal.

VA


O cego de Jericó

Num caminho, que dizia
Ir direito a Jericó,
Todo coberto de pó,
Esmola um cego pedia.

Sentindo gente a correr,
Em tropel, em confusão,
Perguntou o pobre então –
Aquilo que vinha a ser.

- É Jesus de Nazaré,
Que passa, lhe responderam,
Com muitos que resolveram
Abraçar a sua fé.

Mal ouviu tal novidade,
Gritou com grão frenesim:
- Jesus, Filho de David,
Tende de mim piedade!

E tanto, tanto gritou
Que alguém que vinha na frente
Ao pobre então vivamente
Que se calasse mandou.

Sem dar, porém, atenção
A quem calar o mandava,
Mais alto o pobre gritava:
- Tende de mim compaixão!

Ouvindo a voz da desgraça,
Jesus então o chamou
E sem mais lhe perguntou:
- Que queres que eu te faça?

- Que quero? Que hei-de eu querer?
Um cego, Senhor, quer luz.
- Pois bem, lhe tornou Jesus,
Se queres luz, a luz vais ter.

E logo, logo em seguida
O cego de nascimento
Ficou desde esse momento
A ver sempre em toda a vida.

Nisto nos mostra qual é
São Marcos, e muito bem,
O grande poder que tem
Aos olhos de Deus a fé.

VA


Do Pretório ao Calvário


Condenado a morrer como um sicário,
De pés e mãos cravado em uma cruz,
Do Pretório lá vai o Bom Jesus
A via já trilhando do Calvário.

De corda na garganta e cruz ao ombro,
É lento e vagaroso o seu trilhar;
Mas nesse estado, sem geral assombro,
Quem há que possa mais depressa andar?

Ninguém por certo, que da cruz em cima,
Além do peso que de si já tem,
Lá vão atrozes, numa enorme rima,
Do mundo os crimes a pesar também.

E tanto e tanto que no curto espaço
Que do Pretório ao Calvário vai,
Por mais que faça por firmar o passo,
Jesus em terra por três vezes cai.

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Ao Calvário entretanto é já chegado
O Filho de Maria, os seus Amores,
Onde, no meio de pungentes dores,
Será em breve numa cruz pregado.


VA

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