segunda-feira, 1 de abril de 2013

Crime de cisma


D. Pedro, o filho de D. João VI e irmão de D. Miguel, era maçónico. Antes de vir para Portugal e vencer o irmão em 1834, já ameaçara o Papa de lançar o país no cisma. E se não pôde concretizar a ameaça, pois morreu entretanto, concretizaram-na os seus seguidores.
Por perfídia, porém, estes passaram a tratar de cismáticos as pessoas que queriam ser fiéis às autoridades legítimas. E eram muito severos com quem não se vergasse às suas veleidades.
Encontrámos um documento no Arquivo Municipal da Póvoa de Varzim que mostra como acusaram, em 1838, de “crime de cisma” o Regedor da freguesia de S. Pedro de Rates (vizinha de Balasar) .

Administração Geral do Distrito do Porto
Ilustríssimo Sr. Administrador do Concelho da Póvoa de Varzim

Ilustríssimo Senhor
Constando nesta Administração Geral que o Regedor de Paróquia de S. Pedro de Rates, António Francisco Lopes, se acha iniciado (sic) no crime de cisma no Juízo Ordinário desse julgado, torna-se necessário que V. Senhoria, logo que este receba, faça suspender o dito regedor e substituir o emprego, pelo modo que determina o artigo 213 do Código Administrativo, e, para que ele se não evada à pena merecida, V. Senhoria fará que logo em seguida seja capturado e entregue ao Juiz Ordinário desse julgado, do que dará conhecimento a esta Repartição.
Por esta ocasião, lembro a V. Senhoria a necessidade de participar que cumprimento deu ao ofício confidencial que em 15 de Maio último foi expedido por esta Repartição, a fim de ser preso o P.e Cipriano, da freguesia de Refontoura e residente em Rates.
Deus Guarde V. Senhoria.
Administração Geral do Porto, 30 de Junho de 1838.
Joaquim Veloso da Cruz.

A que propósito vem isto aqui?
À data em que a Administração Geral do Porto se encarniçava contra o Regedor de Rates, cuidava Custódio José da Costa que fosse tratada com toda a dignidade a Santa Cruz aparecida em Balasar, aquela Santa Cruz que anunciava a Beata Alexandrina. E já tinha visto o seu jovem pároco ser expulso.
O que ele há-de ter passado!
O documento da autoridade portuense tem tudo de inquisitorial, assenta num puro abuso de autoridade. Quem a mandou imiscuir-se em assuntos de religião?

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