sexta-feira, 8 de março de 2013

O ensino na Póvoa de Varzim em 1848


Relatório do Administrador do Concelho para o Governo Civil

A propósito da ida da pequena Alexandrina para a Póvoa, para estudar, coloca-se aqui este relatório.
Como estava a educação naquele tempo! E alguma vez teria estado melhor?
Mas nos 50 anos seguintes muita coisa ia mudar: as escolas, ao menos as masculinas, iriam generalizar-se nas freguesias rurais, num esforço enorme dos governos da Regeneração e posteriores.

Ilustríssimo e excelentíssimo Senhor

Em cumprimento da Circular n.º 3 enviada pela 2.ª Repartição desse Governo Civil, em data de 23 de Agosto pretérito, tenho a honra de enviar a V. Senhoria o Mapa Estatístico do número das Escolas Régias e Particulares de Ensino Primário e Secundário existente neste concelho em 31 de Julho do corrente ano, pelo qual se mostra que neste concelho há apenas um mestre régio, na freguesia de Rates, com carta régia de 26 de Fevereiro de 1839, cuja aptidão, zelo e assiduidade e comportamento moral e político é sofrível (e no mesmo grau o aproveitamento dos seus discípulos), de idade de 55 anos, solteiro, sem família e sendo filho de lavradores que o sustentam, natural da freguesia de Gueral, concelho de Barcelos, meia légua distante da freguesia de Rates onde tem estabelecida a sua escola em casa de aluguer e aonde acorre com prontidão e a horas próprias de principiar e continuar as suas lições, sem a menor falta. Está no centro do concelho e lugar sadio ou salubre, com a capacidade necessária para o número de 60 discípulos, sendo que destes não frequentam no tempo senão a metade por serem ocupados nos trabalhos agrícolas com seus pais.
Nesta vila não há mestre régio nem de ensino primário nem secundário: esta cadeira foi suprimida pelo Conselho Director da Instrução Pública a título da proximidade desta vila com Vila do Conde, no que tem experimentado uma falta notável e digna de contemplação do Governo, enquanto a primeira de Ensino Primário se acha vaga desde a morte do último professor Tomás Martins Mouta, em 28 de Dezembro de 1845, havendo apenas dois professores particulares do dito ensino, que recebem salários dos mesmos discípulos, cuja aptidão, zelo e comportamento social, moral e político não pode notar-se defeito algum, não sendo (a não ser?) a falta de método e utensílios necessários para uma boa escola normal, ensinado apenas a conhecer e juntar as letras, nomes e as quatro operações aritméticas pelo método antigo que aprenderam.
Não há escolas do sexo feminino, nem régia nem particular, e apenas algumas mestras de costura e meia ensinam o que sabem (às suas discípulas) de ler e escrever.
É quanto se me oferece dizer a V. Senhoria a semelhante respeito, resumindo uma matéria que tanto tem que dizer sobre a necessidade que há de mestres e mestras que não somente sejam hábeis para o ensino, mas mesmo para a educação física, moral e política de que tanto se carece.
Deus guarde V. Senhoria.

Administração do Concelho da Póvoa de Varzim, 25 de Setembro de 1848.
O Administrador do Concelho, Filipe António Pereira da Silva

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