terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A vista do Dr. Elísio de Moura - 26 de Dezembro de 1938 (2)


O que se segue é transcrito de No Calvário de Balasar, do P.e Mariano Pinho. Depois de o lermos, vemos que a Alexandrina foi muito delicada para com o Dr. Elísio de Moura…

Achando-se pelo Natal em Braga, onde residíamos, o Dr. Elísio de Moura, conhecido neurologista, convidámo-lo a vir examinar a doente, a ver se na verdade, a sua paralisia teria por causa mielite ou não. Acedeu gostosamente ao nosso convite.
Explicámos-lhe então a razão do nosso interesse em conhecer a causa da doença: — é que tendo ela êxtase em que se movimentava perfeitamente, era de toda a conveniência perscrutar o valor desses movimentos, à face da Ciência.
Ergue bruscamente a cabeça e, em tom bem diferente daquele em que até ali estávamos conversando, respondeu-nos:
— Ah, sim? Está bem: eu vou lá e curo-a!
— Mas, Doutor, não é que tenhamos dúvidas da verdade dos êxtases da doente; queremos simplesmente saber até que ponto esses movimentos excedem as forças naturais, suposta a sua paralisia.
— Sim, sim: eu vou lá e curo-a! — repetiu.
Com tal predisposição apriorística, pareceu-nos logo que pouco resultado prático iria dar o tal exame. Mas lá fomos, ele, sua Esposa, o Padre José de Oliveira Dias, S.J. e nós, no dia 26 de Dezembro de 1938.
Sem nenhum interrogatório prévio, tratou-a como a própria Alexandrina nos descreve nas suas notas biográficas:

No dia 26 de Dezembro de 1938, fui visitada e examinada pelo Sr. Dr. Elísio de Moura, que me tratou cruelmente, tentando sentar-me numa cadeira com toda a violência. Como nada conseguisse, atirou-me para cima da cama, fazendo experiências que me fizeram sofrer horrivelmente. Tapou-me a boca, atirou-me contra a parede, fazendo-me dar uma forte pancada. Vendo-me quase desmaiada, disse-me:
— Ó minha Joaninha, não percas os sentidos.
Sem querer, chorei, mas as minhas lágrimas ofereci-as a Jesus com os meus sofrimentos que foram muitos, pois o que digo, nada é do que passei. Tudo lhe desculpei, porque ele vinha em missão de estudo.

Quanto aos fenómenos tais quais se apresentam (ele assistiu ao êxtase da Paixão), — são impressionantes, disse — e muito impressionantes, para quem não está habituado a observar o que eu observo: para mim são banais e não vejo motivo, da parte da Ciência, para os atribuir a forças estranhas.
— Então que causa lhe atribui? Histeria? — perguntámos.
— Não.
— Então?
Respondeu hesitando:
— Fraude e auto-sugestão.
É de notar que o Dr. Elísio de Moura, católico, o melhor psiquiatra português, mas não sabe nada de fenómenos místicos, como múltiplas vezes mo confessou, nem está disposto a admiti-los; mostrou-se até algo interessado, quando lhe disse que médicos eminentes os estudavam e admitiam. Não admite as estigmatizações dos Santos; mostra-se muito céptico a respeito dos milagres de Lurdes e indignado com a Voz de Fátima, pelos milagres que lá narra. Nunca leu nem estudou nada de Mística e afirma-me que não há nenhum médico em Portugal que saiba disto.
Procurei convencê-lo que estudasse, pois os teólogos em Portugal precisariam médico a quem recorrer em casos análogos, possíveis... Respondeu-me que não tinha tempo.

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