terça-feira, 10 de julho de 2012

Faz agora 100 anos… (8)

Respeito pelos sacerdotes

Não é possível, para a maior parte dos pequenos episódios ou anotações que a Alexandrina registou acerca do tempo passado na Póvoa, estabelecer datas precisas. Mas conhece-se muita coisa do momento político que então se vivia lá. 
O administrador Sebastião Tomás dos Santos foi afastado do cargo em finais de Junho na sequência dum atentado contra a sua residência cujos autores não foi possível identificar, mas que deveriam ser caceteiros carbonários. É claro que se fez um esforço enorme para culpar a paróquia, mas isso revelou-se sem fundamento. 
A Sebastião Tomás dos Santos, a quem chamavam o Zefinha (que não era poveiro e que manobrava um pouco na sombra através duma rede de espionagem que instituiu) sucedeu Santos Graça. Este actuou de modo diferente, mas com os mesmos objectivos. Coube-lhe o odiosíssimo papel de nacionalizar as igrejas e demais bens paroquiais do  concelho naquele ano de 1911. Depois apontou as suas armas contra o jornal que o Prior apoiava, O Poveiro. Censurou-o pidescamente, levou-o a tribunal e por fim, já em 1912, promoveu o seu silenciamento definitivo. Este jornal devia incomodar muito o administrador e os seus amigos maçónicos pois que aos poucos se afirmava como de projecção nacional.
No seu parcialismo, não se voltou para os jornais radicais, A Propaganda e O Intransigente, que não poupavam ninguém, que insinuavam torpezas quando as não podia garantir. O então jovem P.e Leopoldino, por exemplo, foi vítima dessas insinuações. A casa onde vivia a Alexandrina poderia ficar a uns 100 metros da redacção d’A Propaganda.
Em 1912, o Prior da Póvoa foi enviado para o exílio, como então acontecia com todos os Bispos portugueses.
Neste contexto fazem muito mais sentido as frases em que ela manifesta o seu respeito pelos sacerdotes: 
Lembro-me que tinha muito respeito pelos sacerdotes e, quando estava sentada à porta da rua, só ou com minha irmã e primos, levantava-me sempre à sua passagem e eles correspondiam, tirando o chapéu, se era de longe, ou dando-me a bênção, se passavam junto de mim.
Observei, algumas vezes, que várias pessoas reparavam nisto, e eu gostava e até chegava a sentar-me propositadamente para ter ocasião de me levantar, no momento em que passavam por mim, só para ter o gosto de mostrar a minha dedicação e respeito pelos ministros do Senhor.
Imagens: ao cimo, princípio do arrolamento dos bens paroquiais da freguesia poveira de Terroso (não se conservam os das outras freguesias); como lá se escreve, foi Santos Graça que presidiu ao acto. 
Em baixo, jornal O Poveiro com as colunas centrais em branco, censura do mesmo administrador.

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