domingo, 10 de junho de 2012

O Magnificat, uma oração da Beata Alexandrina (2)


A palavra magnificat é esdrúxula e costuma-se ler manhíficat; significa enaltece, engrandece. É com ela que começa a versão latina da oração de Nossa Senhora; no grego vem mεγαλύνει. As versões latina e grega deste poema podem-se ler na Wikipédia.
É palavra que ocorre em alguns contextos: por exemplo, Álvaro de Campos, o heterónimo citadino de Pessoa, toma-a para título dum texto.
Augusto Gil (1873-1929) escreveu uma versão rimada do Magnificat. Por norma, as adaptações dos textos evangélicos, sobretudo se se propõem melhorá-los, estragam-nos. Neste caso, também há acrescentos mais de boa intenção que propriamente de inspiração. Mas ainda assim, cremos que paga a pena ler:

MAGNIFICAT!

A minha alma engrandece,
Glorifica o Senhor!

E todo o meu espírito estremece
E crepita e exulta e resplandece
Em Deus, meu Salvador!...

Beijo de orvalho na folhinha de erva,
Baixou Deus da vertigem do infinito
Por sobre mim, sua humilhada serva,
A eterna luz do seu olhar bendito...

E fiquei para sempre iluminada
Nesse piedoso e límpido clarão!
E hão-de chamar-me bem-aventurada
Sempre! De geração em geração...

O seu nome é sagrado:
E o seu poder que nunca terá fim
(Por ter em mim poisado)
Não vistas maravilhas fez em mim!

E aos que o temem e a quem dele implora
Misericórdia e protecção clemente,
Deus encaminha-os — pela vida fora
E sempre, eternamente...

Manifestou a força do seu braço
E aos vãos, aos de orgulhoso pensamento,
Desfê-los — como a poeira, pelo espaço,
No turbilhão do vento... 

Derruiu tronos e reis — pô-los de rastros...
 — E aos humildes ergueu-os para os astros!
Deixou os ricos sem riqueza e nome
— E encheu de bens os que sentiam fome!
       
Com desvelado e carinhoso amor,
Protegeu Israel, seu servidor,
                                                
Marcou-lhe os firmes passos com sinais
De Bênçãos e clemência,
Conforme prometera a nossos pais,
A Abraão e a toda a sua descendência...

E eis que será perpetuamente assim
Nos séculos dos séculos sem fim!...

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