sexta-feira, 29 de junho de 2012

De novo o Lino Ferreira (1)


Quando falámos do Salto, tentámos fazer um retrato o mais completo possível do Lino Ferreira, o patrão-carrasco da adolescente Alexandrina e um dos vilões que penetraram na sua casa naquele Sábado Santo de 1918 em que ela completava catorze anos.
Há dias, consultámos as actas da junta de Balasar e delas passamos a transcrever parte duma, de 13 de Junho de 1920.
No pós-Monarquia do Norte, os republicanos eram vencedores, mas fragilizados. Daí com certeza a clemência que pretendiam usar com os vencidos, de que a acta dá conta. Mas o Lino Ferreira não pôde tolerar tal gesto e insurgiu-se galhardamente contra ele.
Quem o colocou no lugar devia saber bem quem escolhia…
Repare-se que o inconstante Cândido dos Santos, popularmente o Cândido Pardal, secunda, enaltece as palavras do “presidente”. Pobre pardal! Dentro de seis anos, essa feia República imposta ao país cairia como fruto podre e nocivo.
O Presidente, continuando no uso da palavra, disse que estava sendo discutido na Câmara dos Deputados um projecto de lei a fim de serem amnistiados os presos políticos e que propunha que esta Junta protestasse contra tal projecto, “pois que ainda deve ser visível na memória de todos os grandes crimes por esses bandidos praticados, e que esses que conseguiram escapar-se das mãos da justiça procuram por todos os meios desacreditar perante as nações estrangeiras este nobre e heróico Portugal”. Por isso, no seu nome pessoal e em nome dos republicanos desta freguesia, protestava contra esse projecto.
Nesta altura, o secretário interino desta junta, Cândido Manuel dos Santos, pediu a palavra, a qual lhe foi concedida. Disse que era com o maior prazer que assim ouvia falar o Presidente da Junta desta freguesia; “as suas palavras calaram bem fundo no meu coração. Da melhor vontade me associo a esse protesto, pois que tal amnistia só concorre para dentro em pouco termos novamente que andar a monte, para não sermos agarrados e chicoteados como foram os republicanos que lhes caíram nas mãos nos dias terríveis da Traulitânia!... E porquê? Por terem cometido o grande crime de serem republicanos”.

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