domingo, 1 de maio de 2011

Alexandrina Maria da Costa

A perspectiva do P.e Leopoldino

Passando, hoje, o primeiro aniversário do falecimento da saudosa e sempre chorada Alexandrina Maria da Costa, limito-me a repetir o que disse na despedida dos meus paroquianos de Balasar a respeito dela:

Passei convosco 23 anos e três meses e deixo-vos por motivo de doença e não por ser despedido dos superiores. Durante esse longo pe­ríodo de tempo baptizei a maior parte da freguesia, administrando es­te sacramento a 1.151 pessoas de ambos os sexos, presidi a 270 casa­mentos, não contando com os realizados fora, e acompanhei à sepul­tura 521 pessoas, crianças e adultos, destacando-se entre estes a nossa Alexandrina do Vicente. Esta rapa­riga do campo merece uma referência especial porque foi a minha valiosa cooperadora no múnus paroquial.
Conhecia tamanina quando rece­beu a Primeira Comunhão na Igreja Matriz da Póvoa de Varzim, que lhe foi dada pelo meu saudoso condiscípulo e pároco P.e Álvaro de Campos Matos.
Quando em 8 de Julho de 1933 tomei posse da paroquialidade de Santa Eulália de Balasar, encontrei Alexandrina já presa ao leito da dor e do sofrimento, prémio da sua abnegação e sacrifício na defesa da sua pureza e integridade do seu corpo de criança de 13 para 14 anos.
Sabendo que a Santíssima Eucaristia é a vida das almas santas e puras dominadas pela doença, du­rante anos consecutivos ministrei-lhe a Sagrada Comunhão diariamente, sendo este, no último período da sua existência, o seu único alimento.
Um dia, sentindo que as forças me iam definhando, disse-lhe: Alexandrina, parece-me que vou dei­xar-vos porque me não sinto com alento para o pesado ónus desta longa freguesia.
A doente calou-se mas volvidos dias, antes de lhe dar o Pão da Vida, ao abeirar-me do seu leito, diz-me:
- Senhor Abade, não receie perder o vigor para deixar a fre­guesia, porque pedi a Nosso Senhor que eu morresse antes de V. Rev.cia nos deixar e Ele prometeu-me que sim e a palavra de Deus não falta.
E assim sucedeu.
Nunca recebi dela dádiva alguma para a minha pessoa, mas recebi muitas para os outros.
A meu pedido ela auxiliou eficaz­mente algumas missões religiosas que operaram uma grande reforma espiritual na vida dos habitantes, muitos deles um pouco esquecidos das suas obrigações de católicos.
Obtive grandes melhoramentos para a igreja paroquial em alfaias e objectos do culto, especialmente o rico e artístico cofre-sacrário, tão lindo que não será fácil encontrar igual em aldeias.
O alto-falante, adquiriu-o espontaneamente para serem ouvidas por ela e pelos que estivessem fora do recinto sagrado as homilias e lei­turas como exercícios de piedade, bem como os cânticos religiosos.
Tinha uma dedicação especial pelas classes pobres, valendo-lhes muitas vezes nas suas necessidades e distribuindo anualmente, dos dona­tivos oferecidos pelos visitantes, alguns milhares de escudos em rou­pas pelos nus e pelos esfarrapados.
O Hospital era uma casa da sua preocupação, interessando-se ela e levando pessoas abastadas a oferecer dádivas em géneros e dinheiro à Santa Casa para que esta nunca deixasse de admitir e tratar com carinho os doentinhos de Balasar, como assim tem acontecido.
O falecido arcipreste Rev. Manuel da Costa Gomes tinha por ela grande respeito e consideração como Director das Obras do Apostolado dos Doentes e a Alexandrina, sabendo da feira das oferendas em benefício das obras da Igreja de S. José, arranjou um rico cesto e chamou bastantes conhecidas e amigas para fazerem o mesmo; por isso, Balazar marcou nessa feira.
As Missões do Ultramar foram matéria do seu zelo apostólico, fundando por intermédio dos Padres do Espírito Santo a Liam.
Presidente da Visita Domiciliá­ria da Sagrada Família, quando sa­bia que em alguns lares havia desinteligências entre os casados, chamava-os para os harmonizar e juntar.
Era uma alma de Deus, cheia de zelo apostólico, trabalhando muitíssimo pela oração e pela acção na santa obra da regeneração espiri­tual das famílias.

Por isso, na passagem do primeiro aniversário da sua subida à Glória do Céu, como cremos, não podíamos deixar no olvido a sua memória e pedir-lhe a continuação do seu auxí­lio à freguesia que lhe foi berço, embora já a não pastoreemos.
L.M. Ala Arriba, 13/10/56

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