sábado, 14 de agosto de 2010

O lugar balasarense do Casal


Daqui houve nome Balasar

Se o nome da freguesia era originalmente Santa Eulália de Lousadelo e se, mudando a sede de paróquia para o Casal, passou a chamar-se Santa Eulália de Balasar, então foi deste lugar que veio o nome à terra: daqui houve nome Balasar.
Há lugares que, ao menos em certo período, tiveram uma relevância muito especial. O Casal também teve o seu tempo. A nosso ver, o que o singularizou foram dois factos: por um lado a mítica fonte que viria a ser de S. Pedro e por outro um desaparecido caminho que atravessava ali o rio e seguia depois para o Telo e Gestrins. Acrescente-se a isto naturalmente o elemento humano e a fertilidade das terras.
O Casal era um lugar muito antigo, talvez de origem romana. É isso que permite  supor a existência da Vila do Casal, mencionada nas Inquirições.
Que a sede de paróquia foi durante alguns séculos neste lugar é apenas atestado pela tradição, mas a mudança medieval de nome da freguesia leva a crer que assim foi.

Vila do Casal, Quinta do Casal, Quinta da Piedade…
Actualmente, em Balasar, fala-se na Quinta de D. Benta, também conhecida como a Quinta de Balasar, na Quinta da Covilhã e na Quinta de S. Adrião. Para estas duas últimas o nome de quinta parece ser de aplicação recente.
Mas há outrra propriedade assinalada nos documentos com o nome quinta: a “Quinta do Casal” (1700), “a Quinta do Il.mo Sr. Miguel Bernardino, sita no lugar do Casal” (1845) e “a Quinta da Piedade” (aí por 1920-1930). A esta propriedade chama-se hoje a Casa do Carvalho e fica em Bouça-Velha. Noutros tempos porém a casa integrava-se no lugar do Casal, o mais populoso da freguesia em 1758.
Nesta última data, declarou-se que a “Ermida da Sra. da Piedade, sita no lugar do Casal, […] é anexa da igreja paroquial”, o que sugere que ela correspondia à antiga igreja paroquial, desactivada dessa função no séc. XVI.
Cerca de 1700, o P.e Carvalho da Costa, na sua célebre Corografia Portuguesa, no final da nota sobre a Fonte de S. Pedro de Rates, acrescenta, debitando informação porventura fornecida pelo reitor Silvestre Montalvão[1]:

Aqui na Quinta do Casal é o solar deste apelido, que tem por armas em campo de ouro cinco flores-de-lis vermelhas em aspa, timbre uma flor-de-lis com um cardo de ouro sobre a folha do meio; outros, uma aspa de ouro com duas flores-de-lis vermelhas sobre a cabeça das pontas dela. Tem dado bons fidalgos e pessoas de grande talento.

D. Pêro Pais Correia esteve em criança no Casal para “honrar” a vila deste nome; é então que se deve ter originado a nobilitação da família do Casal, com casa alçada a “solar”: terá vivido ali a mais antiga família nobre de Balasar, que pelos vistos deu ao país “bons fidalgos e pessoas de grande talento”. De resto, teria sido de lá o famoso Belsar.
Tratou-se com certeza duma família de pequena nobreza de província.
Quando em 1845 o P.e Domingos da Soledade Silos se refere ao “Il.mo Sr. Miguel Bernardino”, que tem uma capela na sua quinta do “lugar do Casal”, com tal tratamento ainda estará a aludir à nobreza da família.

A ponte da Traquinada

O passadiço da Traquinada que liga o Casal ao Telo e a Gestrins é a versão recente doutros bem mais antigos; em 1343 chamava-se a ponte de Curucânio e talvez fosse de madeira; no XVIII era de madeira. Muito antes houve um “porto”. Mas disso falaremos adiante.
A ponte do Vau retirou interesse à ponte da Traquinada. Mas o nome vau indica, como já foi dito, um lugar do rio onde a travessia se pode fazer sem ponte (naturalmente no tempo mais seco do ano). Isto é, o próprio nome diz que durante muito tempo lá não houve ponte, pois fazia-se a travessia a vau. E quando o rio enchia, era preciso passar pelo Casal para ir para norte (para Macieira, para Rates, para Barcelos ou para Braga…)[2].
Fixe-se então o seguinte: do Casal para Gestrins houve uma antiga passagem. Era por lá que as pessoas das redondezas faziam a travessia de norte para sul e vice-versa. Era no Casal também que devia estar a Igreja Paroquial, já que tal passagem servia os balasarenses do sul e os do norte.


[1] Tomo primeiro, pág. 284. Note-se que ele não menciona os Carneiros da Grã-Magriço (que como tal nem existiam) e que deviam ser gente de poucas posses. Verdadeiramente quem os catapultou para um lugar de destaque foi o brasileiro Manuel Nunes com a sua riqueza. Coisa semelhante não se terá passado com os fidalgos do Casal.
[2] Em 1343 também havia uma ponte de Grades, certamente no Vau. Mas terá ruído e depois só terá sido reconstruída em tempos recentes.

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